As Primeiras Saídas à Noite

As primeiras saídas à noite. Deixar sair ou não deixar? Quantos perigos.  A partir de determinada idade, os adolescentes querem sair à noite. Um problema. Uma angústia. É um aspeto, um ritual comum na nossa sociedade mas é sempre visto com apreensão e repreensão pelos pais. O filho, mais maduro, já a desenvolver os seus próprios passos, com os seus amigos e os seus segredos, quer sair à noite. Quer outro tipo de liberdade.

O que fazer? Como pensar? Como agir? A saída à noite com amigos é a tradução – na leitura dos cuidadores- de ausência de regras, falta de controlo, amigos com diferentes princípios e valores, o álcool, as drogas e as vidas alternativas, outras formas de pensar e estar na vida que podem influenciar negativamente a criança que agora é um jovem. Cada vez mais cedo, os jovens querem iniciar a sua vida social noturna já que a diurna desde a primária, pelo menos, foi iniciada. Os aniversários, as dormidas na casa dos melhores amigos agora passam ao estar nas ruas à noite em pequenos bandos ou em bares e discotecas lusco-fusco. Se nos anos 80/90 as saídas começam tardiamente para os jovens que iniciavam já os seus primeiros empregos ou terminavam as faculdades, agora tudo começa mais cedo.

Aos 12/ 14 anos, as crianças já querem ter liberdades as quais não entendem numa profundidade satisfatória e para seu próprio bem e saúde e aos 18 anos, com os atrasos naturais ou sócio-económicos e os perigos, o pensamento parental também é outro. Deixamos aqui algumas considerações que o/a poderá ajudar a re-organizar-se como mais uma etapa do seu crescimento.

Estabelecer Regras e limites. A hora de saída de casa e o seu regresso é norma que habitualmente nenhum pai esquece. Sair sim mas com regras e limites, razoáveis e coerentes. Não perder o controlo pelo controlo rígido ou pelo laxismo largo, não perder o pé sobre o acompanhamento e também não prejudicar o desenvolvimento social.  Como vai e como vem. De forma específica e precisa, cabendo ainda aos pais, enquanto educadores dialogar e estabelecer limites de forma coerente a razoável, tendo em conta a relutância dos filhos. Ainda que percebam e compreendam a preocupação é importante que compreendam para que realmente servem regras e limites no seu crescimento.

 É importante que a imposição de limites seja uma construção com os jovens, facilitando a mesma compreensão, integração e cumprimento. Outras regras são importantes tais como, as que dizem respeito, ao tabaco, álcool, drogas, desconhecidos, comportamento dos amigos, dinheiro, comidas, casas de banho publicas, acontecimentos inesperados, contatos telefónicos, namoros ou relações sexuais.  As regras se forem transmitidas de forma positiva têm maior probabilidade de ser relembradas. Para os Pais, a regra fundamental, a regra de ouro: Bom senso.

Não vale a pena pensar que vai controlar a situação, o evento ou o comportamento do/a filho/a ou evitar situações penosas, lamentáveis que à sua volta poderão ocorrer. A Adolescência é um processo sofrido de afastamento e procura de liberdade, de identidade autónoma, identidade própria, e sexualidade. O jovem quer conhecer-se, quer testar limites, regras, espaços físicos e psíquicos.

Os perigos estão à espreita. Quer fazer ‘asneiras’, pequenas, grandes, ínfimas ou enormes, algumas que poderão ou não desviá-lo do caminho já pensado pelos pais outras tornam-no mais forte. É importante acompanha-los, elevar níveis de confiança, reforçar laços sem os apertar. As comparações com o seu próprio passado ou do adolescente não adiantará aos seus objetivos.

Utilizar uma linguagem jovem com os ‘bués’ ou ‘tasse’ ou ‘como-é-men’ pouco levará a uma compreensão ou aproximação, por mais que pretenda assegurar-se do compromisso do jovem para com as regras e as suas razões.  Abertura sim, contudo tudo o que é demais ou de menos, só fragilizará a relação, por mais que esteja com o coração nas mãos.

Ser o/a próprio/a é um bom começo, alguém que o jovem já conhece, a sinceridade, flexibilidade com assertividade também. Ser coerente e com sentimento é o caminho. Para além das regras e limites, há outras questões importantes que devem ser pensadas.

As consequências. Estas devem ser, tal como as regras, rígidas e intransponíveis, pois a abertura de precedentes o/a levará ao incumprimento. Não sair numa próxima oportunidade, não ver as suas séries favoritas, não ter internet no telemóvel, não ter telemóvel, são algumas, Sempre ao critério possível, coerente, alcançável na vida do jovem. Tal como as regras têm que ser uma realidade alcançável assim como as consequências também têm que o ser. Deixá-lo/a sem televisão ou internet ‘para sempre’, não consideramos que seja possível ou realizável, por exemplo. Só fragiliza quer as regras, quer os castigos.

Regras e Castigos, em dose equilibrada, bem definidas, sem ambiguidades, podem durar uma vida. Mesmo que não perfeitas. Para os Pais, a regra fundamental, a regra de ouro: Bom senso. Por fim, Com que idade o jovem deve sair à noite? Não existe uma idade definida ou uma ‘boa’ idade para as primeiras saídas à noite, tudo depende, em grande parte da maturidade (realista) do jovem, da oportunidade e da observação do seu comportamento em situações similares. Nós, enquanto especialistas, pensamos que a partir dos 16 anos, se houver desejo do jovem este deve sair. Os 14 anos, são muito cedo para não haver supervisão de adultos, e os 18 anos são, a nosso entender, de outras épocas,  e que agora já muito se passou.  A liberdade das saídas à noite deve ser gradual tal como foi do gatinhar para o andar e correr, tal como na escola foi conhecendo e maturando. As horas de saída e horas de entrada, contatos de um ou dois dos seus amigos com quem vai sair, para onde vai e porque, é um bom trilho.

 

Algumas notas: no caso de a criança não viver com ambos os pais, é bastante favorável quando ambos estão de acordo quanto às regras e aos limites, mesmo se o consenso entre ambos os parentes fôr difícil; As regras na casa de um dos pais, devem ser semelhantes às regras na casa do outro; O irmão mais novo poderá sair com o mais velho, se ambos combinaram sair, contando que o mais velho deverá assumir a responsabilidade de cuidar do mais novo e servir de exemplo, para que a cópia seja o mais perfeita possível e saudavelmente real, em situações futuras; se as horas de chegada a casa forem diferentes, o mais velho deverá cumprir o horário, o diálogo com os pais só acolherá a reclamação do mais novo e também do mais velho, o adolescente também deverá entender que as primeiras saídas à noite é um teste à confiança que os pais depositaram nele e ao seu nível de maturidade. A exposição aos perigos que uma saída à noite pode trazer ao adolescente e a forma como este lida com as situações poderão ser impulsionadoras de novas saídas ou pelo contrário de medidas mais desaceleradas. Por fim, prepare-se para algumas noites de insónia e azia neste longo percurso de crescimento dos seus filhos adolescentes.

IN Revista consciente, ‘Nas Nossas Mãos’, Nº 25, Novembro, 2017

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