Na correria, é melhor um post-it para sabermos o que vamos fazer para o jantar, o que está programado para o fim de semana e o que temos que entregar para a semana. Tudo tem que ser lembrado e é bom que assim seja, para não perdermos o pé sobre tudo o que temos para fazer nas 16 horas de vígilia. Percecionamos milhares de informação todos os dias, retemos todas, mas na hora de recordar algumas coisas simples, esquecemos. Porquê?
O nosso cérebro guarda milhões de informação por dia. São lembranças acumuladas, tarefas laborais melhoradas, aprendizagens novas, atividades e gestos diferentes, relações que avançam, e outros tantos dados que não nos damos conta ou valor. Registamos tudo, desde o relógio que dá horas naquele determinado momento, até a dobra do lençol antes de deitar naquele preciso dia. A nossa memória, fisicamente instalada ao nível do hipocampo e do neo-cortex, com uso das diferentes partes que constituem o cérebro, pode chegar rapidamente a um acontecimento ao acaso, com cheiros, odores, tempo, espaço, conversações e atos, com 40 anos atrás que nos surpreende.
A memória foi descrita a partir de 3 áreas: a memória imediata, a memória a curto termo e a memória a longo termo, tendo a duração mais ou menos correta em segundos, minutos, dias e anos. Quando nos recordamos de factos com precisão minuciosa da nossa infância, recorremos à memória a longo prazo, factos ocorridos à horas ou segundos atrás, recorremos à memória imediata. Por fim, a memória a curto termo guarda as informações que usamos durante um dia de trabalho e que nos permite estar operacionais para isso mesmo, melhorando e aperfeiçoando. Está em relação direta com a memória a longo prazo. Somos absolutamente um mini-computador. Pouco estudado ainda para se poder tirar melhor proveito do mesmo. Guardarmos todas as informações referentes à nossa vida, aos momentos que vivemos. Embora bem retidos, não conseguimos recordá-los às vezes com acuidade temporal e espacial. O processamento assim se deu,contudo a percepção e a emoção nem sempre facilitam o caminho, além de que o nosso foco de atenção está virado para o que fazemos e não o que fizémos, uns conteúdos ligam-se a outros, em rede, e portanto determinado assunto pode ir para o saco (quase) sem fundo. Os afetos e o modo de apreensão de cada pessoa podem representar, facilmente, cerca de 70% de uma memória. Um dos autores a colocar em relevo os afetos sob a memorização foi Sigmund Freud (1839-1956). Para este autor, a memória está intimamente associada à maneira como explicamos para nós o mundo à nossa volta, contendo pois as suas distorções, a influência de fantasias que são construídas em especial na infância. A organização da nossa memória gira em torno da percepção e as nossa mente, em especial a rememorização, que exercemos todos os dias assenta mais em aspetos afetivos que físicos. A memória em Freud surge estratificada através de signos, através de traços mnésicos que são responsáveis pelo registar e manter as associações entre as diversas percepções. Estas podem-se tornar conscientes no seu todo ou em parcelas, atuando e interferindo em recordações, de uma maneira mais ou menos consciente. Com isto quer-se dizer que os esquecimentos em grande parte estão relacionados com os aspetos afetivos da vivência para cada indivíduo, naquele momento, e também com os momentos no passado. Além relações escondidas e menos conscientes, só sentimos cansaço e o nosso dia-a-dia frenético, ‘ataca’ ferozmente a nossa mente. A atenção que damos a determinado assunto e mais outro e outro ao mesmo tempo tem que ser repartida quando, sabendo à priori que não conseguimos fazer duas tarefas ao mesmo tempo, mas sim, uma e outra, e outra e uma, é natural que os esquecimentos se dêem.
Transformando os factos noutros por associações e emoções, a recordação é facilitada. A informação não chega à nossa mente porque simplesmente queremos. A informação chega à nossa mente porque nos envolvemos emocionalmente, porque são desenvolvidas associações, preferencialmente positivas que nos possibilitam não perder aqueles estímulos transformados em símbolos, numa linguagem. Com isto também não queremos dizer que quanto mais felizes formos mais memória teremos mas que eventualmente, quanto mais saudáveis psicologicamente estivermos, pois também a mente estará e os acontecimentos passados mais facilmente podem retornar à nossa consciência.
Há uma grande influência. Uma depressão, em especial, pode danificar o processo de memorização. Por alguma razão, os ‘especialistas’ dos sentimentos são os primeiros a afirmar que uma criança abandonada mais rapidamente terá mais dificuldades cognitivas que uma criança que é acompanhada e amada pelos pais. Nós acreditamos que o bem estar físico, o bem estar mental e relacional trazem benefícios incalculáveis à memória e como tal, à vida e à longevidade.
SUGESTÕES para reforçar a sua memória:
- Dormir bem – 8 horas de sono, no escuro, em silêncio, em quarto ventilado, sem televisão, rádio ou telemóvel, pode prolongar o seu bom humor e saúde
- Alimentação Saudável – esqueça enchidos, dobradas, fritos e outras alimentações com excesso de gordura, por fora ou por dentro, deixe o sangue circular livremente no seu corpo, em especial, ao nível do cérebro
- Exercício físico – melhora com toda a certeza a memória, como diversos investigadores têm vindo a afirmar durante dezenas anos
- Vida profissional com objetivos – mantenha-se sempre em objetivos, planos e sonhos profissionais, a aprendizagem não ocupa lugar, melhora o lugar- na memória!
- Vida pessoal com objetivos – Sonhe! Acordado e a dormir. A fantasia, os desejos devem ser perseguidos. A felicidade não traz dinheiro mas pode trazer uma memória de ferro.
- Pouca ou nenhuma solidão – As pessoas e com elas as relações, as conversações sempre melhoraram o nosso estado de espírito. É necessário conviver, diverte-se, dialoga, sabe sempre algo novo ou dito de outra maneira. O vínculo humano -humano, quando prazeroso é dos melhores que pode existir para a sua memória, pela via dos afetos, vitais ao nosso bem estar.
- Deixar de fumar e beber – Extremamente importante, a oxigenação livre ao nosso cérebro. Os danos que o fumo e o álcool provocam no cérebro são irreversíveis.
- Mente saudável – Exercite a sua mente com jogos e passatempos simples: Mahjong, Sudoku, Palavras Cruzadas, Palavras escondidas, Puzzles, Objetos escondidos, jogos de cartas e a leitura obrigatória de cabeceira
IN revista consciente, crónica Inconsciente, Nº 8, Junho 2016
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