LAPSOS

Os lapsos são ocorrências muito frequentes no nosso dia-a-dia. A explicação parece simples: esquecemo-nos de uma palavra, não estamos absolutamente atentos ou concentrados ou ainda estamos cansados. Trocamos palavras semelhantes. Isto parece tudo certo, no entanto, existe uma verdade escondida. Uma verdade inconsciente para cada lapso.

Os lapsos fazem parte do quotidiano. Nunca ninguém poderá dizer que nunca se enganou numa palavra. Lapso é a ação de colocar uma palavra no lugar de outra, não é um esquecimento, ou ‘uma branca’, é a substituição com alguma regulariedade de uma palavra por outra, na escrita, na linguagem falada.  A saber, subjaz-lhe uma espécie de intoxicação ou contaminação pela semelhança entre palavras, seja esta gramatical, fonética ou semântica.  Os significados latentes ao ‘lapsear’ habitualmente não estão disponíveis conscientemente e também não parecem importantes, uma vez que qualquer pessoa tão rapidamente emenda o erro como se esquece da pequena ‘brincadeira’ do seu cérebro. Há situações muito caricatas e outras muito embaraçosas quando falamos de lapsos, como uma mulher que chama Sr. Peru, queria  ao talhante Manuel quando lhe queria pedir bifes de peru, o um vizinho que cumprimenta a Sra. Anália com um  bom dia, Sra. Anal ou  espere uma rapidinha quando se pretende dizer espere um minutinho ou ainda o marido que chama a mulher pelo nome da colega de trabalho, o que é bem, bem pior. Sigmund Freud foi o primeiro a tentar explicar os lapsos, sob a senda do ato falhado. Existe uma história por detrás de um lapso que nos remete ao nome que é substituído pelo outro.

A nível inconsciente tudo se passa pela força que  palavra tem no contexto externo atual. Embora possam estar associadas a condições patológicas graves não é isso que acontece regularmente e Freud defendeu precisamente isso. Os lapsos podem não estar associados a perturbações mentais, antes pelo contrário poderão e deverão ser vistos numa modalidade de saúde mental. Há um elemento perturbador que provem do mundo externo e que permanece no inconsciente, manifestando-se a seguir naquilo que se ia dizer, por substituição e também por condensação, à semelhança dos processos que ocorrem nos sonhos. A sua significação requer um trabalho em detalhe daquilo que é inconsciente. A rigor, os lapsos acontecem quando um desejo inconsciente adquire tamanha importância que passa as forças que o reprimem ou contêm, levando uma pessoa a agir de modo contrário à sua vontade consciente. Esta situação ocorre porque a situação ou a palavra que é anulada em contexto provocaria mais desprazer do que a outra que a substitui. Não querendo com isto dizer que sempre que se troca um nome de uma pessoa pelo nome de outra, se deseja estar com esta última.

É possível saber que nas situações mais simples, é fácil perceber qual o nosso desejo ou angústia, ao que está associado, contudo, à medida que a distância e a estranheza aumentam entre aquilo que se ia dizer e aquilo que se diz, maior é a dificuldade em descobrir o motivo inconsciente. Há trocas naturais entre as palavras e motivos inconscientes o que não significa que há boa ou má intenção, como o catarro está cheio de peito  ou abre a janela que está frio. Há uma complexidade maior na nossa mente, no nosso inconsciente e é  bom e saudável que não nos lembremos de tudo ou que desejos mais profundos encontrem vias simbólicas e sublimadas para engraçarem o dia.

IN Revista consciente, crónica Inconsciente, Julho 2016

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