Morar Só, sem os Pais

Longe dos pais é o desejo premente na adolescência. Afastá-los o mais possível. Psiquicamente e fisicamente. Para muitos jovens, terminar o 12º ano e/ou alcançar a maioridade civil e social é um dos primeiros rituais para aquilo que de mais importante se vai passar na sua vida: ser um jovem adulto. Temos vindo a assistir que não parece ser fácil deixar o ‘ninho’ na altura considerada mais adequada, que é por volta dos 22/25 anos. O desemprego jovem, o excesso de licenciados para os lugares disponíveis e o nível socioeconómico não facilitam esta transição que outrora fora facilitada. O que mais se assemelha com este afastamento é o estudar fora, numa faculdade longe de casa. Morar sozinho ou dividir um apartamento com outros estudantes significa o princípio da independência e proporciona aprendizagens que vão da expansão cognitiva à psicológica e social. Num novo mundo, desprotegido/a e só. Tudo está para fazer, da alimentação às limpezas. As contas para pagar, os arranjos, as roupas para lavar e passar, a chave da porta que não é para esquecer, o lixo que tem que se colocar na rua e os gastos ‘supérfulos’ que não entram nas despesas.  Muito muda. Observa-se e pensa-se de outra forma. O amadurecimento pode espreitar a cada passo que se dá. Morar longe, só, sem os pais, é um processo de aprendizagem que exige tempo de adaptação, uma mudança importante, não drástica, com erros.

Os problemas práticos passam a fazer parte da vida, o que fazer para o jantar?, o papel higiénico acabou?; a lâmpada do quarto fundiu?; a roupa tem que ser lavada?; De onde vem tanto pó?, quem desarrumou a casa?, onde está a chave da porta de casa? Outras questões também surgem, novos vizinhos, novas caras, novos ritmos e rituais. As relações modificam-se. A postura perante a vida toma outros contornos e os outros são vistos mediante outras perspetivas. As saudades podem ser nostalgia, solidão ou transformarem-se prosperamente noutra compreensão de si mesmo. Também é o período em que se pode fazer tudo, não ter horas para chegar, não nos despedirmos quando fechamos a porta de casa, deixar os sapatos (ou as cuecas!) onde bem entendemos que devem ficar,  atirarmos de um penhasco (com páraquedas) sem que milhares de horas tenhamos perdido a argumentar o que é o Base Jumping, conviver com uma  má companhia ou deixar um exame para Setembro. A responsabilidade passa a ser o jovem. O jovem que é quase adulto. Com obrigações e deveres. Os direitos, em especial de descansar após as aulas ou ver filmes os dias inteiros, após os trabalhos de casa feitos (ou não) acabam. Nova vida. Há sempre contudo, os telefonemas impostos à mãe e os relatos ou não, daquilo que se fez durante as 24 horas.

O acompanhamento do jovem está quase sempre presente. E este pode ser de progresso, isto é controlando com a distância certa aquilo que se deve e se pode controlar e deixar que o crescimento e a evolução do jovem o traga de volta. Diferente mas também de volta. Ou se é de transmissão de insegurança e isolamento, de não crescimento e de pena. O tamanho das tupperwares da comida pronta a aquecer, da roupa lavada do fim de semana  e dos telefonemas por dia, podem também nos dizer como a evolução da relação e da segurança vão aumentado ou diminuindo. Passo a passo, terão tendência a diminuir ou pelo contrário a aumentar até o ano se perder, a insegurança se instalar e o medo levar o jovem de volta a casa. A necessidade de adaptação por parte do jovem ou dos pais é imperiosa no período de transição jovem à vida adulta. Sair de casa para estudar longe pode ser um bom ensaio para obter sucesso.

Para morar sozinho/a é essencial:

1-Ser Organizado/a– a arrumação é meio caminho para se sentir bem e conseguir mover-se dentro do seu apartamento ou quarto

2-Criar rotinas para as tarefas domésticas—rotinas com horas determinadas—refeições, arrumações ou limpezas

3-Efetuar os pagamentos, saber os dias em que recebe a correspondência e não perder os recibos de pagamento caso tenha necessidade de reclamar

4-Controlar as despesas—as habituais, as essenciais e as ‘superfulas’

5-Organize a sua alimentação e os produtos de limpeza, fazendo listas semanais, quinzenais ou mensais

6-Planeie as suas alimentações

7-Não esqueça o que é essencial

8-Não deixe para amanha aquilo que pode fazer de imediato—desde a limpeza de um tapete até à arrumação do seu quarto

9-Conserve ou adquira objetos e roupas ‘faceis’ de limpar/lavar e também de usar quando a imaginação ficou a dormir

10-Se possível tenha uma empregada doméstica que faça a limpeza do apartamento pelo menos 15 em 15 dias

11-Não deixe acumular muitas tarefas para o fim de semana, este é para descansar

12-Tenha horas para descontrair, dormir, estudar

13-Por fim, não receie as Listas!Os seus pais não são assim tão ridículos. Experimente olhar à sua volta nos hipermercados.

IN Revista consciente, ‘Nas Nossas Mãos’, Nº 23, Fevereiro, 2018

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