Separação dos Pais

A separação dos pais é sentida pela criança como um acontecimento traumatizante. Provoca inequivocamente alterações no seu desenvolvimento e pode levar a alterações na sua personalidade. Antes de ocorrer a separação física, concreta, a separação emocional traduzida em desentendimentos, discussões e, muitas vezes, violência emocional ou física, é aquela que mais pode melindrar uma criança. A saída de casa de um dos pais não só afeta a criança pela ausência e desequilíbrio emocional nos seus suportes como também afeta o ambiente que o rodeia.  Ambos são importantes. A criança de pais separados tem que construir formas para lidar com oscilação física. Vai habitar duas casas em vez de uma. Tem que saber lidar com a ausência de um dos parentes no seu quotidiano, no qual constrói a sua vida, é o seu mundo. Os pais têm que enfrentar questões judiciais referentes à separação legal e pensão de alimentos, refazer orçamentos familiares e administrar as suas vidas de outra maneira. Novos horários e novas pessoas. A família deixa de existir, para existirem duas.  Novas teorias, novas explicações, reajustamentos, adaptações, invenções para pais e filhos. E assim é para diminuir o impacto da separação. Toda uma nova vida começa.

A custódia de um só filho pode ser um esforço tremendo, não só monetário como também psicológico. Há uma serie de ajustes a fazer e as suas dúvidas nunca devem ser a dos mais pequenos. A desarmonia, menos infeliz, na maior parte dos casos, do pai que ficou com a custódia do filho/a pode-se fazer notar neste. A frustração, a mágoa e a raiva deverão ser canalizadas para alguma coisa que possa fazer de saudável. Sem ser ausente, frio e calculista, deve ser dada atenção para não se  imporem limites excessivos que não existiam. Castigando-o por não conseguir lidar com a situação ou não conseguir comunicar com ele também não será a melhor forma de lidar com a separação ou até a frustração do seu filho. Descurar-se nos seus horários e nas rotinas porque se afasta o “mau da fita” também não nos parece que será a melhor forma de atenuar o sofrimento e promover a compreensão da situação. De um modo geral, a criança falará consigo através do seu comportamento. A atenção redobrada sobre ele poderá ser uma mais valia para retomar o mais depressa possível uma rotina saudável. As crianças podem ficar deprimidas, tristes, desobedientes, agressivas, rebeldes, com pesadelos ou sono irregular, podem apresentar alteração de apetite, concentração ou por outro lado, compensarem de forma extraordinária, em relação ao comportamento que tinham. A criança está em aprendizagem continua, aprende como se devem resolver os conflitos entre as pessoas, como se devem relacionar através da forma como os pais se relacionam entre si. A separação, e a forma como lida com esta, também fará parte dessa aprendizagem.

A assistência e o cuidado ou atenção que um pai separado tem que ser matéria a elaborar pelo responsável primeiro. Sem floreados ou linguagem de bebé, a criança tem necessidade de perceber, compreender a razão da separação. Todo o acontecimento gera confusão e pode gerar ansiedade, angustia, insegurança e até mesmo desespero. Sentimentos de abandono são comuns e podem gerar algumas dificuldades na sua vida. Os danos que a imagem de um dos pais ou inclusive dos dois também pode ocorrer, na falta de explicação da situação. A criança terá tendência em fantasiar argumentações e razões para os factos ocorridos, escapando-lhe a realidade por ser ainda e por algum tempo tudo uma aprendizagem que deverá ser contida e significada. A boa representação mental de ambos os pais, mesmo quando ocorrem desacatos, desentendimentos severos e condutas irregulares deverá ser investida e promovida pelos pais separados. As suas funções enquanto pai e mãe, na separação deverão ser mantidas, mesmo que por vezes seja tarefa árdua que exige tempo e trabalho, uma vez que em  casos não raros, um dos pais tem por função ser mãe e pai. Face à não explicação, à ausência de comunicação a criança tenderá a preencher as lacunas com fantasias, desmedidas, que vão prejudicar a sua auto-imagem, auto-conceito, porque as suas fantasias serão sempre desproporcionadas das imagens de qualquer um dos pais.

 

Para Pensar:

  •  Quando a separação ocorre, tente compreender com justiça e honestidade, (mesmo que secreta e só para si) as razões da mesma. Isso lhe fará conviver com a situação de tal forma que a aliviará na sua relação com as crianças
  • Deixe as crianças participarem na separação. Alguns técnicos defendem que as crianças pouco podem fazer ou que poderão ficar ainda mais confusas e desorientadas. Acreditamos que se o seu filho tiver um papel mais ativo na separação e se assim o desejar poderá compreender ambas as partes envolvidas, poderá eventualmente tentar a reconciliação que poderá ser benéfico para o seu próprio sentimento de culpa e aprender a lidar com a situação de uma forma mais real e com mais harmonia. Não perfeita mas real e coerente.
  • Evite danificar a outra parte envolvida na criança. A mágoa desta já será grande para com ambas as partes não a torne maior. O contato com ambos os pais deverá ser mantido. Evite culpar o outro pela separação. A criança vai precisar de ambos e em equilíbrio para constituir um bom caráter.
  • Desmistifique as crenças que a criança poderá ter  como sendo filho/a de pais separados, estando pois a evitar problemas na sua vida escolar e social. Mais esclarecida a criança vai atenuar sentimentos de culpa ou de inferioridade e saberá lidar com ataques de outras crianças de uma forma segura.

IN Revista consciente, crónica Nas Nossas Mãos, Nº 3, Fevereiro, 2016

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