O que esperamos dos sonhos? Porque sonhamos? Porque criamos enredos que fazem parte da nossa vida e ao mesmo tempo parecem tão estapafúrdios? Perguntas muito válidas para quem se questiona com o acto de sonhar? Sonhamos porque o corpo necessita descansar, o cérebro fecha-o ao movimento, num ritmo desde a nascença, por cansaço e também por hábito de repouso. Se não fôr assim, caímos por terra, até que o corpo descanse. O sono toma o lugar da actividade física e o sonho toma o lugar da atividade psicológica. Esperamos do sonho o descanso para que o sono se imponha, o descanso mental nas nossas necessidades e impulsos, por isso criamos, porque somos seres de ligação, de lógica, emoção e pensamento. Ligamos imagens e sons em tom alucinatório mais ou menos coerente, no qual escrevemos uma história para nós, uma história onde ensaiámos os nossos conflitos e por vezes realizamos sonhos acordados.
O sonho é a conjugação de imagens e sons familiares que nós produzimos durante o sono. O cérebro mantém-se ativo enquanto nós dormimos. A atividade cerebral durante o sono tem 5 estágios, dos quais passamos do mais leve ao mais profundo, do mais profundo ao mais leve, consecutivamente. O nosso cérebro não pára! Durante o sono de 8 horas por exemplo, uma pessoa passa várias vezes pelos ciclos de sono, sendo o último, o estádio REM, aquele em que a mente está ativa como no estado de vigília. É o estádio mais comprido. O corpo físico está desligado, a atividade motora faz parte exclusivamente do sonho, na imaginação. O sono REM ou paradoxal é o estádio de sono onde se dão os sonhos mais intensos, embora consigamos criar histórias desde o 2º estádio. O sonho não é mais do que uma criação de vivências em forma de imagens que criamos durante o sono e que ligamos numa sucessão, numa história com emoção. Símbolos, signos, sinais, significados e intenções não são esquecidas pela mente mais ágil que o próprio sonhador. O sonho permite-nos descansar e vivenciar os desejos, as angústias e os medos que na realidade retraímos ou que lidamos de outra maneira. Também é dito, em especial na ciência psicológica que o sonho é o espaço de realização de desejos inconscientes.
O grande impulsionador do estudo dos sonhos foi S. Freud (1856 – 1939) que trouxe até aos nossos dias uma obra incomparável e intemporal. Este autor explicou que a mente humana, em especial a parte que lida com a realidade adormece durante o sono e a parte que lida com as nossas emoções e razões mais íntimas acorda, fazendo com, sem a tribulação repressora da camada mais à superfície, os nossos desejos são libertados sem que no entanto se mascarem para viver em folia o que na realidade não se pode ou não se deve fazer. Fogem do nosso interno mais social e mais moral. Assim surgem os enredos do sonho. Libertação de uma carga energética que estava presa e se liberta, através do simbólico. Conteúdos libertam-se do mais inconsciente e sub-consciente e na mente a dormir vivem nos conflitos mais aflitos e pesados de forma mais ou menos coerente. As nossas histórias que contamos para nós. Os sonhos carregam a nossa vida interior, profundamente marcados numa linguagem de símbolos e também de interpretações e significados só pessoais. Sonhamos com o interdito e o proibido segundo as nossas crenças e valores. Se deixamos de fumar, em especial por necessidade, sonhamos provavelmente que estamos a fumar. Se temos um amor sonhamos com ele em especial aquilo que lhe dizíamos sem a nossa timidez e constrangimento. Vivemos em festança no sonho. Habitualmente. Se deixamos de comer gorduras pois eventualmente sonhamos com bacon ou toucinho. Sempre em contexto de histórias, nem sempre no oposto. O sonho é o nosso cérebro a comunicar conosco, a nossa mente que nos desafia na autoridade. No sono REM, a parte cerebral ativa alem da visual, a parte da aprendizagem e da organização da informação. A aprendizagem que podemos fazer durante o sonho pode ser complementar à nossa vida em vigília, sem esquecer o desbloqueio de pequenos conflitos ou outros que, inconscientemente, procuram solução na realidade, como já mencionámos. Quando vezes falamos nós em inglês fluente em sonho quando na realidade só aos soluços? Os sonhos ligam vivências, memórias passadas e presentes através de pequenas constelações de sinais e significados que por detrás destes se escondem. Não é raro sonharmos que estamos num espaço recente com objetos que fazem
parte do nosso passado, com estruturas novas e desconhecidas e com gente que já faleceu. O sonho mistura imagens análogas com objetos que já conhecemos ou que utilizámos no dia anterior. Não sendo possível apanhar o significado do sonho sem a ajuda de um especialista, ficamos normalmente pelo pensamento daquilo que nos é emocionalmente conhecido.
O estudo dos sonhos tornou-se celebre pela possibilidade de cura que a informação, os enredos destes trouxeram para vislumbrar uma saída de sintomas impossibilitantes de vida e de bem –estar. Possibilitou pelo aprofundamento científico estudar os lugares mais ocultos da mente humana e compreende-la para melhor facilitar a vida ao ser humano. Devemos esperar dos sonhos o descanso do corpo físico e mental pela tentativa de resolução daquilo que nos vincou no presente atual, de um mês atras, do passado de 3 anos ou do passado infantil. Segundo o pioneiro no estudo do sonho, este é a realização mais profunda de desejos infantis, em parte relacionais, em parte naquilo que implica a nossa evolução psicológica com vista ao bem –estar. Num enredo, num sonho, de 10 minutos, podemos vivenciar a realização de vários desejos que ligámos no passado e voltamos a ligar porque é a nossa forma de percepionar essa realidade e/ou conflito em particular ou então encenar vezes sem conta um único conflito, maior, mais relevante que nos marca a personalidade de forma importante. Sonhos repetidos, não traumatizantes podem ser um bom indício de um conflito importante não resolvido ao longo dos anos. O mesmo espaço, as mesmas pessoas, a mesma ação, os mesmos objetos podem ser indício de uma mesma questão a resolver e/ou a atenuar.
É a realização do desejo no sonho que nos permite relaxar também a mente, porque a carga energética em torno de uma questão não resolvida permite pela alucinação, na concretização pelo vivenciar do sonho, diminuir. Essa possibilidade de realização emerge no sonho, pelo abaixamento das defesas psíquicas que nos tornam nós, em particular durante o estado de vigília e também pelo que todo o material ou recordações próximas ou distantes que fazem parte do sonho, não são reconhecidas como sendo do sonhador, possibilitando a livre circulação de experiências passadas. E lembre-se tudo o que é sonhado é do sonhador que não reconhece, habitualmente, a sua autoria.
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